Santiago - Roteiro

A ilha de Santiago, a maior do arquipélago de Cabo Verde, com os seus quase 1.000 km2 e com mais de 300.000 habitantes, reúne uma paleta de encantos naturais, de preciosidades históricas e de riquezas culturais que encontraremos através de todo o país.

Aqui podemos frequentar praias amenas, conviver em paisagens luxuriantes umas e quase lunares outras, viajar na história aos tempos da pirataria e do tráfico de escravos, sentir o calor humano cosmopolita ou rural, trepar a picos abruptos ou perder-nos em vales verdejantes, sentir a essência africana e tropical em mercados típicos, em sabores inesquecíveis, em artesanato, em música única que daqui parte para correr mundo.

Aqui se encontra o berço, em tempos batizado como Ribeira Grande, agora conhecido por Cidade Velha. O silêncio e a paz de agora contrastam com os primórdios da penetração europeia nos trópicos africanos através daquela que foi a primeira capital do arquipélago, e a primeira cidade fundada em África pelos portugueses.

Na Cidade Velha fundem-se as memórias deixadas pelos descobridores e povoadores, permanecendo algumas relíquias, quase todas em ruínas, e casas erguidas em muros de pedra, e por vezes cobertas de colmo, e a vegetação luxuriante do vale que aqui se formou, com realce para os coqueiros e as imponentes calabaceiras.

Fortaleza de S. Filipe foi erguida com pedra portuguesa e do Maio, e nos seus tempos defendeu a cidade das cobiças alheias, respondendo ao que, nos anos de quinhentos, seiscentos e mesmo setecentos, foram os constantes ataques de corsários famosos como Francis Drake e Jacques Cassard. A Ribeira Grande era então um centro alfandegário de navios que transportavam escravos da costa de África para o resto do mundo. Desses tempos resta ainda a Igreja da Senhora do Rosário, com os seus túmulos e azulejos razoavelmente conservados. A Sé Catedral, cujas ruínas foram estabilizadas através de um projeto do famoso arquiteto português Siza Vieira, espera ainda um plano para a sua restauração. O Pelourinho, de estilo manuelino, erigido em 1520, testemunho da violência a que os escravos eram publicamente sujeitos, é uma das poucas peças intactas na arquitetura da Cidade da Ribeira Grande.

A instabilidade permanente fez com que em 1769 a capital do arquipélago fosse transferida da Ribeira Grande para a mais recatada Cidade da Praia. O tempo tornou-se então o grande senhor da Cidade Velha.

Praia é um pedaço urbano de África nas águas atlânticas. A cidade parece pulsar a partir da Praça Alexandre de Albuquerque, espaço em que se cruza quem circula no Plateau entre o comércio e os edifícios institucionais e religiosos que a circundam.

Nas últimas décadas, a capital saltou do Plateau e construiu diversos bairros, alguns dos quais, como a Achada de Santo António, o Palmarejo, a Cidadela, a Achadinha, a Achada Grande e a Achada de S. Filipe, são hoje aglomerados populacionais infraestruturados e importantes, atraindo a si parte importante da vida da cidade, quer no que respeita ao comércio, quer descentralizando a Administração, quer ainda no que toca a diversão noturna, gastronomia ou oferta cultural e desportiva.

Impõe-se uma visita ao Mercado Municipal do Plateau, recentemente remodelado e ampliado, onde os produtos agrícolas do centro da ilha são trazidos num afã de vendedeiras carregando nos seus balaios, saídos invariavelmente de ruidosos Hi-Aces, as papaias, bananas, mangas, mandioca, tomate, tamarindo, coco, hortaliças e outras vitualhas de que a grande urbe se abastece para a cozinha diária.

Já o Sucupira, mercado-restaurante com resposta para as mais variadas necessidades de consumo, desde roupa e calçado a serviços diversos, não dispensando também a fruta e os legumes, implantou-se com força no decorrer dos últimos 20 anos, no vale que separa o Plateau da Achadinha, a montante do Taiti.

Produto da expansão assombrosa da capital, a Avenida de Lisboa, a caminho do Palácio do Governo para sul, e demandando o Bairro de Vila Nova, para norte, tornou-se o novo eixo da cidade, de passagem obrigatória para nela entrar ou dela sair.

Da Praia é o já célebre grupo coreográfico Raiz di Polón, cujas atuações constituem uma atração de muito bom nível artístico.

Quanto ao visitante, pode escolher dar um mergulho em praias como a de Quebra Canela, Prainha, Mulher Branca ou Gamboa.

A Gamboa, uma praia pouco utilizada para banhos, onde ainda subsiste o pequeno cais de desembarque que servia mesmo os paquetes de passageiros no século passado, atrai praticantes de diversas disciplinas desportivas ao fim de semana, mas tornou-se sobretudo conhecida desde há vários anos pelo Festival que tomou o seu nome, e que decorre em regra no mês de maio, atraindo à Praia nomes sonantes da música internacional.

Toda a zona ribeirinha da Praia, desde o porto até à Cidade Velha, está num processo de requalificação que a médio prazo vai transformar por completo a orla marítima sul da ilha.

A noite na Praia é um tempo de muitas escolhas. Dos sabores aliciantes da variada gastronomia às vertigens ou dolências de uma música profundamente enraizada na alma de um povo. São momentos inesquecíveis de convívio com uma reconfortante riqueza cultural. As noites do Quintal da Música, na Av. Amílcar Cabral, ou do Fogo d’África, na Terra Branca, são disso exemplos, em especial quando um grupo de batucadeiras agita as ancas no frenesim deste cantar típico de Santiago, herança da longínqua mas forte raiz continental da população de Cabo Verde, ou o violino do grande artista Nhô Náni ecoa dando ritmo à dança...

Saímos da Praia rumando para norte. Antes de nos perdermos em sucessivas encostas montanhosas onde as formas dos picos que as encimam são um desafio à imaginação de cada um, a paragem em S. Domingos mostra-nos um dos vales mais ricos e verdejantes da ilha que convida à procura de recordações cabo-verdianas no Centro de Apoio à Produção Popular.

S. Jorge de Órgãos,, a seguir, é o contraste com a aspereza das encostas montanhosas. Aqui, no encontro e sossego da densa vegetação, podemos visitar o único Jardim Botânico do país. Fica no sopé da elevação mais alta de Santiago, o Pico da Antónia.

E se a visita se realizar no último quarto do ano, após as breves chuvas, pode o viajante estar certo de que a vegetação será luxuriante.

Lá em cima, em Rui Vaz, encontra-se um dos restaurantes mais frequentados da ilha, servido pela Quinta da Montanha, uma unidade rural que se dedica à agricultura por métodos que utilizam as mais recentes tecnologias de rega e seleção de produtos.

Do lado oposto a S. Jorge, a nordeste, na Ribeira de Poilão, encontra-se agora a primeira barragem importante construída no país, em 2006, para aproveitamento da água das chuvas. Ao fim de uma década de funcionamento, são visíveis os campos férteis que sobem das margens, sobrevoados por bandos de garças brancas e pombos bravos.

Mais barragens foram entretanto construídas e prometem revolucionar a agricultura de diversas ribeiras, como a dos Flamengos, Salineiro, Saquinho, Figueira Gorda e Faveta. Assim haja chuva que as abasteça, no período das “aságua”.

A passarinha, pequena ave de cores vivas, endémica nesta ilha, no Fogo e na Brava, multiplicou desde então a sua presença, esvoaçando entre os galhos dos arbustos em redor das bacias de água. É de resto marcante o contraste protagonizado por esta ilha antes e depois das chuvas, que entre julho e outubro, em períodos escassos mas por regra em doses maciças, causam enchentes nas ribeiras e revestem de verde toda a superfície desta terra, que no entanto volta a assumir, nos primeiros meses do ano, a sua secura habitual.

A pouco mais de 60 quilómetros da Praia, a cidade e o campo misturam-se na atmosfera muito especial da Assomada. O mercado da cidade é um dos mais importantes centros de trocas comerciais do país, principalmente de produtos agrícolas. Para aqui convergem habitantes de todo o planalto, tanto para vender como para comprar. É a poucos quilómetros deste grande centro urbano, em Chã de Tanque, que se pode visitar o Museu da Tabanka.

Mais além, passado o planalto central da ilha, fértil e colorido, numa escapada à costa sudoeste, para um olhar a dois dos muitos “portinhos” da ilha: Porto Rincão e Ribeira da Barca, povoações piscatórias.

Bem a Norte, ultrapassada a Serra da Malagueta, um miradouro privilegiado sobre a Ribeira de Principal, chega-se a um local de emoções contrastantes: o Tarrafal.

A baía é um lugar paradisíaco, de areias claras, águas tépidas e cristalinas, acolhedoras sombras de imponentes coqueiros. Aquilo com que os amantes da praia sempre sonharam. É também um sítio muito importante para os pescadores que aqui desenvolvem a sua faina.

O contraste com as belezas naturais é corporizado pelo local do antigo Presídio construído no segundo quartel do século passado pelo regime ditatorial que então vigorou em Portugal, e onde foram enclausurados presos políticos e de direito comum, quer da então Metrópole, quer das Colónias portuguesas da altura. Um pequeno museu testemunha a saga de alguns destes prisioneiros, que não podem ser esquecidos.

Depois de mais um mágico encontro com a gastronomia tradicional, em que a cachupa, um prato consistente à base de milho, feijão, legumes e carnes diversas ou peixe, é rainha, começamos a viagem de volta pelo litoral nordeste.

A paisagem mudou. A estrada acompanha pequenas baías e enseadas, minúsculas praias desertas de areias negras onde ocasionalmente descansam botes de pesca. Em pequenas ribeiras, como que alternando, descobrem-se terras agrícolas alongando-se até ao mar. A Ribeira de Principal, passada Mangue das Sete Ribeiras e antes de chegarmos a Chã de Monte, é uma veiga fértil de vida agrícola intensa.

Encontramos então algumas aldeias de camponeses insubmissos que se isolaram numa espécie de protesto contra o que consideraram ser a distorção envolvente dos princípios de vida em que acreditam. São os Rabelados. Continuam a considerar-se cristãos, mas afastaram-se dos conceitos da religião oficial. Foram por isso considerados subversivos, e como tal foram objeto da desconfiança, tanto da Igreja Católica como do Poder instituído. Acreditaram nos novos tempos da Independência, mas a essas esperanças também se sucederam fases de desilusão. Fecharam-se novamente e, apesar de existirem novos sinais de abertura, os Rabelados mantêm-se ainda apegados aos seus princípios, tendendo embora a rarear, à medida que as novas gerações acabam por ser escolarizadas.

Passada uma das mais importantes povoações da ilha, S. Miguel da Calheta, chegamos a Santa Cruz, onde existiram no passado extensas e convidativas plantações de bananeiras, coqueiros e papaieiras numa zona luxuriante seguida por uma impressionante garganta. Um passeio pela Ribeira de Santa Cruz faz-nos penetrar no âmago do que foi a ilha em séculos passados, até Ribeirão Boi e Salto, já perto de Santa Catarina, onde mergulhamos na História profunda da construção do povo e da língua crioulos.

Santiago de Pedra Badejo é também uma povoação palpitante, com o seu portinho de pesca, seguido de uma extensa plantação de coqueiros, mandioca, bananeiras, cana do açúcar e outras culturas, desembocando num extenso areal negro bordejando o mar, sempre presente e rendilhado de espuma branca no basalto negro da costa norte da ilha.

Já a cerca de 15 quilómetros da Praia, a Praia Baixo representa um convite irrecusável a um reencontro com as águas tépidas e transparentes. Há pouco tempo quase deserto, o trecho de costa sudeste próximo da capital é agora objeto de projetos de resorts de imobiliária turística, uns já construídos ou infraestruturados, como o Sambala, junto a S. Francisco, outros em projeto, como nos Concelhos de S. Domingos, Santa Cruz e Santa Catarina, ainda em papel.

Uma via circular ligando o aeroporto à Trindade e a S. Martinho Grande é agora um eixo mestre no desenvolvimento urbanístico da capital de Cabo Verde, e permite ao tráfego oriundo do interior ou do aeroporto optar por seguir para leste, para o centro ou para oeste da cidade, ou ainda para a recém-urbana zona de S. Francisco.

O Aeroporto Internacional da Praia tomou o lugar em 2005 à pista que até então só podia acolher aeronaves de pequeno porte, as quais garantiam o tráfego interno, além de algumas ligações às cidades mais próximas no Continente.

Está em fase de conclusão a ampliação das instalações aeroportuárias, facilitando a movimentação de agentes económicos e políticos, o mundo da cultura e do Turismo, e da população em geral.

A ilha de Santiago, a maior do arquipélago de Cabo Verde, com os seus quase 1.000 km2 e com mais de 300.000 habitantes, reúne uma paleta de encantos naturais, de preciosidades históricas e de riquezas culturais que encontraremos através de todo o país.

Aqui podemos frequentar praias amenas, conviver em paisagens luxuriantes umas e quase lunares outras, viajar na história aos tempos da pirataria e do tráfico de escravos, sentir o calor humano cosmopolita ou rural, trepar a picos abruptos ou perder-nos em vales verdejantes, sentir a essência africana e tropical em mercados típicos, em sabores inesquecíveis, em artesanato, em música única que daqui parte para correr mundo.

Aqui se encontra o berço, em tempos batizado como Ribeira Grande, agora conhecido por Cidade Velha. O silêncio e a paz de agora contrastam com os primórdios da penetração europeia nos trópicos africanos através daquela que foi a primeira capital do arquipélago, e a primeira cidade fundada em África pelos portugueses.

Na Cidade Velha fundem-se as memórias deixadas pelos descobridores e povoadores, permanecendo algumas relíquias, quase todas em ruínas, e casas erguidas em muros de pedra, e por vezes cobertas de colmo, e a vegetação luxuriante do vale que aqui se formou, com realce para os coqueiros e as imponentes calabaceiras.

Fortaleza de S. Filipe foi erguida com pedra portuguesa e do Maio, e nos seus tempos defendeu a cidade das cobiças alheias, respondendo ao que, nos anos de quinhentos, seiscentos e mesmo setecentos, foram os constantes ataques de corsários famosos como Francis Drake e Jacques Cassard. A Ribeira Grande era então um centro alfandegário de navios que transportavam escravos da costa de África para o resto do mundo. Desses tempos resta ainda a Igreja da Senhora do Rosário, com os seus túmulos e azulejos razoavelmente conservados. A Sé Catedral, cujas ruínas foram estabilizadas através de um projeto do famoso arquiteto português Siza Vieira, espera ainda um plano para a sua restauração. O Pelourinho, de estilo manuelino, erigido em 1520, testemunho da violência a que os escravos eram publicamente sujeitos, é uma das poucas peças intactas na arquitetura da Cidade da Ribeira Grande.

A instabilidade permanente fez com que em 1769 a capital do arquipélago fosse transferida da Ribeira Grande para a mais recatada Cidade da Praia. O tempo tornou-se então o grande senhor da Cidade Velha.

Praia é um pedaço urbano de África nas águas atlânticas. A cidade parece pulsar a partir da Praça Alexandre de Albuquerque, espaço em que se cruza quem circula no Plateau entre o comércio e os edifícios institucionais e religiosos que a circundam.

Nas últimas décadas, a capital saltou do Plateau e construiu diversos bairros, alguns dos quais, como a Achada de Santo António, o Palmarejo, a Cidadela, a Achadinha, a Achada Grande e a Achada de S. Filipe, são hoje aglomerados populacionais infraestruturados e importantes, atraindo a si parte importante da vida da cidade, quer no que respeita ao comércio, quer descentralizando a Administração, quer ainda no que toca a diversão noturna, gastronomia ou oferta cultural e desportiva.

Impõe-se uma visita ao Mercado Municipal do Plateau, recentemente remodelado e ampliado, onde os produtos agrícolas do centro da ilha são trazidos num afã de vendedeiras carregando nos seus balaios, saídos invariavelmente de ruidosos Hi-Aces, as papaias, bananas, mangas, mandioca, tomate, tamarindo, coco, hortaliças e outras vitualhas de que a grande urbe se abastece para a cozinha diária.

Já o Sucupira, mercado-restaurante com resposta para as mais variadas necessidades de consumo, desde roupa e calçado a serviços diversos, não dispensando também a fruta e os legumes, implantou-se com força no decorrer dos últimos 20 anos, no vale que separa o Plateau da Achadinha, a montante do Taiti.

Produto da expansão assombrosa da capital, a Avenida de Lisboa, a caminho do Palácio do Governo para sul, e demandando o Bairro de Vila Nova, para norte, tornou-se o novo eixo da cidade, de passagem obrigatória para nela entrar ou dela sair.

Da Praia é o já célebre grupo coreográfico Raiz di Polón, cujas atuações constituem uma atração de muito bom nível artístico.

Quanto ao visitante, pode escolher dar um mergulho em praias como a de Quebra Canela, Prainha, Mulher Branca ou Gamboa.

A Gamboa, uma praia pouco utilizada para banhos, onde ainda subsiste o pequeno cais de desembarque que servia mesmo os paquetes de passageiros no século passado, atrai praticantes de diversas disciplinas desportivas ao fim de semana, mas tornou-se sobretudo conhecida desde há vários anos pelo Festival que tomou o seu nome, e que decorre em regra no mês de maio, atraindo à Praia nomes sonantes da música internacional.

Toda a zona ribeirinha da Praia, desde o porto até à Cidade Velha, está num processo de requalificação que a médio prazo vai transformar por completo a orla marítima sul da ilha.

A noite na Praia é um tempo de muitas escolhas. Dos sabores aliciantes da variada gastronomia às vertigens ou dolências de uma música profundamente enraizada na alma de um povo. São momentos inesquecíveis de convívio com uma reconfortante riqueza cultural. As noites do Quintal da Música, na Av. Amílcar Cabral, ou do Fogo d’África, na Terra Branca, são disso exemplos, em especial quando um grupo de batucadeiras agita as ancas no frenesim deste cantar típico de Santiago, herança da longínqua mas forte raiz continental da população de Cabo Verde, ou o violino do grande artista Nhô Náni ecoa dando ritmo à dança...

Saímos da Praia rumando para norte. Antes de nos perdermos em sucessivas encostas montanhosas onde as formas dos picos que as encimam são um desafio à imaginação de cada um, a paragem em S. Domingos mostra-nos um dos vales mais ricos e verdejantes da ilha que convida à procura de recordações cabo-verdianas no Centro de Apoio à Produção Popular.

S. Jorge de Órgãos,, a seguir, é o contraste com a aspereza das encostas montanhosas. Aqui, no encontro e sossego da densa vegetação, podemos visitar o único Jardim Botânico do país. Fica no sopé da elevação mais alta de Santiago, o Pico da Antónia.

E se a visita se realizar no último quarto do ano, após as breves chuvas, pode o viajante estar certo de que a vegetação será luxuriante.

Lá em cima, em Rui Vaz, encontra-se um dos restaurantes mais frequentados da ilha, servido pela Quinta da Montanha, uma unidade rural que se dedica à agricultura por métodos que utilizam as mais recentes tecnologias de rega e seleção de produtos.

Do lado oposto a S. Jorge, a nordeste, na Ribeira de Poilão, encontra-se agora a primeira barragem importante construída no país, em 2006, para aproveitamento da água das chuvas. Ao fim de uma década de funcionamento, são visíveis os campos férteis que sobem das margens, sobrevoados por bandos de garças brancas e pombos bravos.

Mais barragens foram entretanto construídas e prometem revolucionar a agricultura de diversas ribeiras, como a dos Flamengos, Salineiro, Saquinho, Figueira Gorda e Faveta. Assim haja chuva que as abasteça, no período das “aságua”.

A passarinha, pequena ave de cores vivas, endémica nesta ilha, no Fogo e na Brava, multiplicou desde então a sua presença, esvoaçando entre os galhos dos arbustos em redor das bacias de água. É de resto marcante o contraste protagonizado por esta ilha antes e depois das chuvas, que entre julho e outubro, em períodos escassos mas por regra em doses maciças, causam enchentes nas ribeiras e revestem de verde toda a superfície desta terra, que no entanto volta a assumir, nos primeiros meses do ano, a sua secura habitual.

A pouco mais de 60 quilómetros da Praia, a cidade e o campo misturam-se na atmosfera muito especial da Assomada. O mercado da cidade é um dos mais importantes centros de trocas comerciais do país, principalmente de produtos agrícolas. Para aqui convergem habitantes de todo o planalto, tanto para vender como para comprar. É a poucos quilómetros deste grande centro urbano, em Chã de Tanque, que se pode visitar o Museu da Tabanka.

Mais além, passado o planalto central da ilha, fértil e colorido, numa escapada à costa sudoeste, para um olhar a dois dos muitos “portinhos” da ilha: Porto Rincão e Ribeira da Barca, povoações piscatórias.

Bem a Norte, ultrapassada a Serra da Malagueta, um miradouro privilegiado sobre a Ribeira de Principal, chega-se a um local de emoções contrastantes: o Tarrafal.

A baía é um lugar paradisíaco, de areias claras, águas tépidas e cristalinas, acolhedoras sombras de imponentes coqueiros. Aquilo com que os amantes da praia sempre sonharam. É também um sítio muito importante para os pescadores que aqui desenvolvem a sua faina.

O contraste com as belezas naturais é corporizado pelo local do antigo Presídio construído no segundo quartel do século passado pelo regime ditatorial que então vigorou em Portugal, e onde foram enclausurados presos políticos e de direito comum, quer da então Metrópole, quer das Colónias portuguesas da altura. Um pequeno museu testemunha a saga de alguns destes prisioneiros, que não podem ser esquecidos.

Depois de mais um mágico encontro com a gastronomia tradicional, em que a cachupa, um prato consistente à base de milho, feijão, legumes e carnes diversas ou peixe, é rainha, começamos a viagem de volta pelo litoral nordeste.

A paisagem mudou. A estrada acompanha pequenas baías e enseadas, minúsculas praias desertas de areias negras onde ocasionalmente descansam botes de pesca. Em pequenas ribeiras, como que alternando, descobrem-se terras agrícolas alongando-se até ao mar. A Ribeira de Principal, passada Mangue das Sete Ribeiras e antes de chegarmos a Chã de Monte, é uma veiga fértil de vida agrícola intensa.

Encontramos então algumas aldeias de camponeses insubmissos que se isolaram numa espécie de protesto contra o que consideraram ser a distorção envolvente dos princípios de vida em que acreditam. São os Rabelados. Continuam a considerar-se cristãos, mas afastaram-se dos conceitos da religião oficial. Foram por isso considerados subversivos, e como tal foram objeto da desconfiança, tanto da Igreja Católica como do Poder instituído. Acreditaram nos novos tempos da Independência, mas a essas esperanças também se sucederam fases de desilusão. Fecharam-se novamente e, apesar de existirem novos sinais de abertura, os Rabelados mantêm-se ainda apegados aos seus princípios, tendendo embora a rarear, à medida que as novas gerações acabam por ser escolarizadas.

Passada uma das mais importantes povoações da ilha, S. Miguel da Calheta, chegamos a Santa Cruz, onde existiram no passado extensas e convidativas plantações de bananeiras, coqueiros e papaieiras numa zona luxuriante seguida por uma impressionante garganta. Um passeio pela Ribeira de Santa Cruz faz-nos penetrar no âmago do que foi a ilha em séculos passados, até Ribeirão Boi e Salto, já perto de Santa Catarina, onde mergulhamos na História profunda da construção do povo e da língua crioulos.

Santiago de Pedra Badejo é também uma povoação palpitante, com o seu portinho de pesca, seguido de uma extensa plantação de coqueiros, mandioca, bananeiras, cana do açúcar e outras culturas, desembocando num extenso areal negro bordejando o mar, sempre presente e rendilhado de espuma branca no basalto negro da costa norte da ilha.

Já a cerca de 15 quilómetros da Praia, a Praia Baixo representa um convite irrecusável a um reencontro com as águas tépidas e transparentes. Há pouco tempo quase deserto, o trecho de costa sudeste próximo da capital é agora objeto de projetos de resorts de imobiliária turística, uns já construídos ou infraestruturados, como o Sambala, junto a S. Francisco, outros em projeto, como nos Concelhos de S. Domingos, Santa Cruz e Santa Catarina, ainda em papel.

Uma via circular ligando o aeroporto à Trindade e a S. Martinho Grande é agora um eixo mestre no desenvolvimento urbanístico da capital de Cabo Verde, e permite ao tráfego oriundo do interior ou do aeroporto optar por seguir para leste, para o centro ou para oeste da cidade, ou ainda para a recém-urbana zona de S. Francisco.

O Aeroporto Internacional da Praia tomou o lugar em 2005 à pista que até então só podia acolher aeronaves de pequeno porte, as quais garantiam o tráfego interno, além de algumas ligações às cidades mais próximas no Continente.

Está em fase de conclusão a ampliação das instalações aeroportuárias, facilitando a movimentação de agentes económicos e políticos, o mundo da cultura e do Turismo, e da população em geral.

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