Cabo Verde afina estatísticas do Turismo

Uma nova metodologia para as estatísticas de Turismo, mais adaptada à dinâmica atual do setor e que produza dados concretos em questões-chave, de suporte à planificação estratégica, é um dos grandes objetivos do governo e do INE. Para apoiar nesse desiderato, encontra-se em Cabo Verde uma missão da Organização Mundial do Turismo (OMT) da qual vão sair recomendações para aprimoramento dessa produção de dados.

“Para poder planificar o desenvolvimento turístico sustentável, um país tem de tomar decisões baseadas em dados”, aponta Nagora Espinosa, consultora da OMT, que se encontra em Cabo Verde desde dia 19, para apoiar o país na produção de dados sobre o Turismo, sector que representa um quarto do PIB.

Sabendo que quanto mais aprimorados e completos os dados, melhor é o instrumento para suporte das decisões, no âmbito desta missão da OMT está a definição de uma metodologia para a produção da nova Conta Satélite do Turismo, a segunda que o país está a realizar (a primeira foi divulgada em 2015, referente ao período 2011-2015), e que se pretende estar mais em consonância com as RIET (Recomendações Internacionais para Estatísticas do Turismo) das Nações Unidas.

Apesar da importância da Conta Satélite do Turismo (CST), Nagora Espinosa destaca que há todo um conjunto de outros de estudos estatísticos e instrumentos que não podem ser secundarizados.

“É como uma casa, temos de ir completando uma série de pisos prévios antes de chegar ao telhado, que seria a CST”, ilustra.

Outros estudos, como o inquérito aos gastos, ou o inquérito às famílias são, por exemplo, de grande importância ao nível da estatística sobre Turismo.

A próxima CST deverá ser apresentada pelo INE, em 2020.

Turismo dos Cabo-verdianos

Para a especialista, o sistema estatístico cabo-verdiano atual é robusto, apresentando bastante informação, “contas nacionais bastante fortes”, muita informação sobre o emprego, entre outros elementos que acabam por permitir que o “sistema estatístico turístico não parta do zero”.

Contudo, há algumas recomendações que estão a ser feitas, nomeadamente a nível do inquérito aos gastos e outros níveis estatísticos.

Entre as principais alterações presentes na nova metodologia que está a ser proposta, está que passem a ser contemplados, e de forma desagregada, os gastos dos cabo-verdianos em viagens turísticas, sejam gastos com viagens internas, sejam os gastos no país antes da partida/chegada de um destino estrangeiro.

São gastos “impactantes para a economia”, aponta Nagora Espinosa, pelo que devem ser considerados.

A Missão da OMT, que decorre até dia 28, foi solicitada pelo governo e pelo INE e é financiada pelo Fundo de Turismo.

Comité para definir estratégias de medição de estratégias

Entretanto, está em curso a criação de um Comité de Governança do Sistema Estatístico Nacional do Turismo, uma plataforma inter-institucional que irá definir como e o que “medir”.

A criação desta plataforma inter-institucional é uma recomendação das Nações Unidas, que permite aliar duas partes fundamentais do sistema nacional de estatística turística: a governança e o trabalho de dados.

Trata-se de "institucional arrangements" entre as diferentes entidades que são produtoras e usuárias de dados - muitos são as duas coisas – para que cheguem a acordos sobre o que a estatística deveria medir e cada coisa que temos de fazer para medir”, explicita Nagora Espinosa.

Ou seja, se por um lado cabe ao Ministério definir as estratégias para o Turismo, caberá a este comité definir “as estratégias para medir essas estratégias”, diz ainda.

A reunião para a criação do mesmo decorreu hoje e contou com a presença do Director Geral do Turismo, Francisco Sanches Martins, do Presidente do Fundo do Turismo Manuel Ribeiro, do vice-presidente do INE, Celso Soares, e de várias instituições que produzem informações sobre o turismo, como a Polícia Nacional.

Esta é mais uma iniciativa que para os intervenientes mostra o interesse do Ministério do Turismo e dos Transportes, através da direção-geral Turismo e dos Transportes, e a aposta na produção de dados como instrumento estratégico de suporte às decisões.

“No geral, a maior parte dos governos do mundo, o Ministério de Turismo pensa essencialmente na parte de marketing. Essa vertente é necessária, mas para tomar decisões, até as de marketing, temos de saber de onde vêm os nossos turistas, com que outro destino nos comparam, antes de vir de férias, etc”, aponta a especialista, elogiando o facto do Governo ter tomado a ”decisão de investir em dados” e a sua parceria com o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os dados permitirão também que o setor privado e os municípios tenham dados rigorosos e ”possam tomar decisões para um desenvolvimento sustentável do turismo”.

Fonte: Expresso das Ilhas

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