“Modernização da agricultura em Cabo Verde só terá sucesso se for precedida de uma profunda reforma fundiária” – investigador

O investigador e docente da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), Valdimir Silves Ferreira, disse hoje que a modernização da agricultura em Cabo Verde só terá sucesso se for precedida de uma “profunda reforma” fundiária.

O especialista cabo-verdiano falava em declarações à imprensa após a sua intervenção nas jornadas científicas sobre a história, memória e futuro da Macaronésia, durante a qual fez uma resenha histórica dos primórdios da ocupação das ilhas, com enfoque no uso e na posse da terra e nos modelos definidos pelo poder colonial até ao seu declínio no século XX.

Valdimir Silves Ferreira, que tem desenvolvido trabalhos na área das ciências agrárias e ambientais, afirmou que o quadro atual, marcado pela fragmentação da terra em pequenas propriedades, vai levar a um “beco sem saída”, que demanda uma “profunda reforma”.

“Esse quadro evolutivo vai-nos enviar para um beco sem saída, ou seja há um limite em termos de fragmentação das propriedades a um ponto em que há-de se tornar económica e tecnicamente inconcebível e não rentável a produção. Por isso digo que estamos neste momento perante um quadro claro que demanda uma profunda reforma no sistema fundiário cabo-verdiano”, sustentou.

O professor doutor frisou que a experiência do início dos anos 80, de uma tentativa de reforma agrária que não foi bem-sucedida, deixou problemas, pelo que prevê que há-de haver momento para retomar essa debate até porque, salientou, não há como modernizar sem implementar reformas.

“Por exemplo, para modernizar o nosso sistema de educação houve reformas, novos curricula, novos manuais e novas disciplinas, o mesmo acontece com a nossa administração e deve acontecer com a nossa agricultura”, salientou, precisando que modernizar a agricultura sem implementar reformas ficará “bastante difícil”.

“É preciso que a sociedade civil, os partidos, o Governo e os agricultores sentam no mesmo espaço para discutir essa questão porque o quadro atual de grande fragmentação não favorece”, declarou.

Vladimir Silves Ferreira, que tem vários trabalhos de investigação na área agrária, precisou que a média de tamanho de uma propriedade de regadio em Cabo Verde é menor que um hectare.

Ademais, acrescentou, grande parte dos operadores do mercado agrícola, quem efetivamente trabalha na agricultura, não é dono da terra e não sendo dono há todo um problema de como investir, como ter acesso ao crédito e como empresarializar.

“Portanto há um conjunto de limites não só técnicos devido à pequena dimensão das propriedades, mas também há um problema jurídico”, sintetizou.

Neste sentido, indicou que não é possível implementar uma agricultura que se quer moderna, que se quer capaz de abastecer o mercado turístico, capaz de garantir a segurança alimentar cabo-verdiana e fazer a transformação e atingir os mercados da diáspora com o quadro atual.

Para além da Vladimir Silves Ferreira interveio no tema “As economias insulares do Atlântico médio na primeira colonização” a docente da universidade de La Laguna, Ana Vina Brito.

As primeiras jornadas científicas sobre a “História, memória e futuro da Macaronésia” acontecem no âmbito do Programa Macaronésia Campus Global, um projeto inovador orientado para potenciar a criação de um espaço singular de aprendizagem e de conhecimento entre os arquipélagos do Atlântico médio.

Fonte: InforPress

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