Autárquicas 2016. Rescaldo das Eleições Autárquicas 2016

Basta, o símbolo da coragem
O movimento Basta de José Luís “Djaiss” Santos, na Boa Vista, foi o símbolo da coragem das eleições autárquicas de 4 de Setembro. Lutou e derrotou os candidatos dos dois partidos do arco do poder – MpD e PAICV. A sua primeira vitória foi no campo da batalha judicial: o Tribunal Constitucional deu-lhe razão e invalidou a decisão do Tribunal da Comarca, que tinha recusado aceitar a sua lista de candidatura. Entra para a história ao conquistar a Câmara local, pondo assim termo aos 16 anos de gestão autoritária do ex-Edil José Pinto Almeida. A dupla constituída por Djaiss (Câmara) e Péricles Barros (Assembleia) tem agora a trabalhosa missão de protagonizar mudanças para levar o progresso que almejam os habitantes da ilha.
GIR, a revelação
O Grupo Independente Ribeira Brava, Um Município Renovado de Pedro Morais “Ped Chia” foi a grande revelação destas eleições. Nasceu de uma ruptura com o MpD devido à escolha atabalhoada do candidato do partido na Ribeira Brava. O seu líder, Pedro Morais, entregou o cartão de militante após negociações inconclusivas com os ventoinhas e lançou-se numa corrida que agora se revela triunfante – superou o próprio MpD que esteve por trás da sua génese e o PAICV que estava na câmara. Entretanto, vai ter que sacar da sua capacidade de negociação para viabilizar a gestão da Câmara da Ribeira Brava, que pela primeira vez será tripartida. O GIR conseguiu eleger cinco deputados para a Assembleia e dois vereadores para a Câmara, contra o MpD, liderado por Osvaldo Fonseca, que elegeu quatro deputados para a AM e dois vereadores para a CM. O PAICV aparece como o fiel da balança alcançando apenas quatro deputados para a AM e um vereador para a CM. Os casos da Boa Vista e de São Nicolau devem ser analisados de forma ponderada pela Direcção Nacional do MpD, pois tudo indica que na escolha dos candidatos, o partido deve levar em conta todos os disponíveis ou candidatáveis dando-lhes igual oportunidades para se posicionarem, sem discriminação ou ameaças, conforme referiu um militante.
Vitórias históricas
As vitórias mais emblemáticas registadas nestas autárquicas aconteceram no Fogo. O ventoinha Jorge Nogueira conseguiu, depois de quatro tentativas frustradas, eleger-se presidente da Câmara de S. Filipe. O seu colega Alberto Nunes, que concorreu pela segunda vez, chegou também ao cadeirão dos Paços do Concelho de Santa Catarina. Com esses resultados, o MpD conseguiu desalojar o PAICV dos dois concelhos do Fogo. Uma vitória histórica na ilha que até antes das legislativas de 20 de Março era tida como bastião daquele partido. A divisão da base do PAICV entre Eugénio Veiga e Luís Pires facilitou a vida ao MpD.
UCS e abstenção vencem
Com os 18 presidentes de Câmaras eleitos, o líder do MpD foi o grande vencedor das autárquicas de 4 de Setembro. Ulisses Correia e Silva reforçou a sua liderança investindo forte como protagonista, ao figurar em primeiro plano nos cartazes de todos os candidatos. A abstenção foi a outra grande vencedora do pleito do último domingo. É que 41,7% dos eleitores (131.019), o correspondente a quase metade dos recenseados, não foram votar. O mais grave aconteceu na capital, onde mais de metade dos eleitores – 56.5 %, ou seja 45.303 – ficou em casa. Os cientistas sociais precisam de estudar esse fenómeno, que pode configurar algum desinteresse da população pela política.
A derrotada
A líder do PAICV, Janira Hopffer Almada, é a derrotada das eleições municipais. O partido tambarina teve o seu pior resultado de sempre ao baixar de oito para apenas duas câmaras. O MpD conseguiu roubar-lhe seis Câmaras de uma assentada – o golpe mais duro aconteceu com a derrota na Câmara Municipal de São Filipe e Santa Catarina do Fogo. Janira Hopffer Almada teve a infelicidade de herdar um partido com uma imagem desgastada, a divisão interna que a liderança de José Maria Neves criou, aliada a uma forte oposição de destacados dirigentes do partido, muitos deles com relevância no sistema PAICV. JHA foi sensata ao pôr o seu cargo à disposição.
Autarcas sobreviventes
Carlos Fernandinho Teixeira (Mosteiros) e Carlos Alberto Silva (Santa Cruz) foram os únicos dos oito presidentes de Câmaras do PAICV que escaparam ao terramoto político do último domingo que arrasou a base autárquica do partido. Sobreviventes apesar das investidas do MpD, principalmente nos Mosteiros onde actos de vandalismo tiveram lugar no restaurante do pai do cabeça de lista à Assembleia, os dois autarcas resistiram e venceram.
Divisionistas de saída
Os resultados eleitorais das autárquicas ditaram a morte política dos dois principais responsáveis pela divisão da base do PAICV no Fogo. São eles, Eugénio Veiga e Luís Pires, ambos ex-presidentes da Câmara Municipal de S. Filipe. Numa disputa em que o ego pessoal falou mais alto, ambos chegaram a entregar o cartão de militante para poderem concorrer como independentes. Violaram o estatuto do partido, desrespeitaram as decisões democráticas dos órgãos da direcção, são os responsáveis pela primeira derrota histórica do PAICV na cidade dos Sobrados. Mas nem um nem outro reconhecem o estrago que causaram ao partido.
Pregador do deserto
Foi como pregar no deserto. O apelo dos académicos e retomado pelo ex-primeiro-ministro José Maria Neves, para não se colocar todos os ovos (votos) no mesmo cesto, não passou. Os resultados eleitorais provisórios mostram que aconteceu precisamente o contrário. Os cabo-verdianos votaram massivamente nos candidatos do MpD. Como consequência, temos agora um partido hegemónico no país – tem a maioria parlamentar de 40 deputados, 18 câmaras municipais e um PR da sua cor política.
Recordista chorão
O presidente da UCID saiu, pela quinta vez consecutiva, derrotado das eleições autárquicas no Mindelo. António Monteiro bateu o recorde de candidatos com mais derrotas. Já levou o K.O. de Onésimo Silveira, o de Isaura Gomes e um duplo de Augusto Neves. Por ter investido muito no pleito de 4 de Setembro, Monteiro saiu que nem um bebé chorão, contestando «a baixa política» do reeleito Edil ventoinha Augusto Neves, com o qual a UCID tem viabilizado, nos últimos oito anos, a governação de São Vicente.
Rosa Rocha derrota-se a si mesma
Depois de um jejum de quatro anos, o MpD volta a governar Porto Novo. Aníbal Fonseca recuperou a Câmara Municipal que estava nas mãos de Rosa Rocha do PAICV. A vitória do MpD, segundo críticos do partido tambarina, está ligada ao período conturbado que o PAICV atravessa por causa das disputas internas, que decorrem na liderança nacional e na Comissão Política Regional. Rosa foi uma das embaixadoras de Janira Hopffer Almada durante a eleição interna e também disputou a liderança regional com o deputado Carlos Delgado. É criticada ainda por seus pares devido ao seu mau relacionamento com os munícipes e com os próprios militantes do PAICV, facto que levou muitos apoiantes a envolverem-se na campanha eleitoral contra a sua reeleição. Na verdade, muitos dizem que Rosa derrotou-se a si mesma, porque fez um mandato de “portas fechadas”, embora o seu exercício deixe obras no centro da cidade, que poderiam contribuir para a sua reeleição. Aliás, uma análise aos dados com ponderação permite concluir que Rosa foi derrotada pela população do interior do concelho, que sempre a acusou de ser uma presidente ausente nessas localidades.

Fonte: A Semana

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