Manuel Brito Semedo critica “nacionalismo acirrado” com o crioulo e “descuido com a língua portuguesa”

O antropólogo cabo-verdiano, Manuel Brito Semedo, disse hoje em entrevista à Inforpress que há um “nacionalismo acirrado” com a língua cabo-verdiana e um descuido com a língua portuguesa, que é do ensino, e não se faz nada para valorizá-las.

Para este professor universitário é preciso trabalhar as duas línguas, a portuguesa e a cabo-verdiana, como línguas da nossa matriz identitária, mas apesar dos discursos repetitivos anualmente por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna não se faz absolutamente nada.

“O Mistério da Educação trabalha mal e parcamente a língua portuguesa, que é a língua do ensino, e o Ministério da Cultura apropriou-se da língua cabo-verdiana e são do mesmo Governo. E os erros vêm de trás porque passou-se para a sociedade a ideia de que a língua cabo-verdiana combate a portuguesa e parece que têm na cabeça deles que é uma língua de resistência e que a língua portuguesa é estrangeira e não é nossa”, comentou.

Por causa disso, conforme Manuel Brito Semedo, continua-se todos os anos a discutir a mesma coisa e não há avanços, porque o “Ministério da Educação não se ocupa convenientemente da língua portuguesa e o Ministério da Cultura não se ocupa convenientemente da língua cabo-verdiana”.

Segundo o antropólogo, a língua portuguesa tem que ser trabalhada convenientemente para ser língua de ensino e também a língua cabo-verdiana deve ser trabalhada antes de se chegar ao ensino.

“Nós não estamos a ensinar a língua do ensino convenientemente e, por isso, as falhas que tem. Na questão do crioulo ainda nós temos um processo para chegar ao ensino da língua cabo-verdiana. Portanto, não se está a trabalhar nisso. Sem fazer este trabalho quer-se passar a língua cabo-verdiana para o ensino”, explicou.

A propósito das afirmações do linguista Manuel Veiga segundo as quais a situação linguística de Cabo Verde é de diglossia em desconstrução e de bilinguismo em construção, Manuel Brito Semedo lembrou que “Manuel Veiga foi técnico durante muitos anos nesta matéria e, sendo boa ou má, ele é responsável pela situação que está”.

“Como ministro ele também tomou decisões e esta é a situação, portanto todas as pessoas envolvidas tiveram a responsabilidade e hoje meteram-nos nesta confusão e as coisas precisam de ser clarificadas”, disse.

Conforme Brito Semedo, criou-se uma confusão nas pessoas de que o alfabeto é a mesma coisa que língua e passou-se para a sociedade a ideia de que se quer impor a língua de Santiago, o que não é verdade. “Isto tem acirrado algum bairrismo e as coisas têm sido mal conduzidas”, explicou.

Questionado sobre a ideia lançada pelo ministro da Cultura de elevar a língua cabo-verdiana a património, Manuel Brito Semedo também criticou os anúncios e as “decisões políticas tomadas de cima para baixo”, sem antes terem suportes técnicos.

“A nossa Constituição quando foi aprovada disse-se que teria de criar condições para se chegar lá, mas não se faz nada e fica-se nesta puxa-puxa. Agora vêm com a conversa porque vem aí a revisão constitucional. Mas pergunta-se ao senhor Ministro da Cultura o que ele fez nesses três anos para que a língua cabo-verdiana seja co-oficial”, questionou o antropólogo criticando as decisões do anterior Governo sobre esta matéria.

Fonte: InforPress

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