Agravamento da situação de empresas públicas em Cabo Verde preocupa FMI

A situação financeira das empresas públicas em Cabo Verde continua a preocupar o Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar da instituição reconhecer que a economia cabo-verdiana começa a dar sinais de recuperação, aapurou a PANA, quarta-feira, na cidade da Praia, de fonte segura.

Em declarações à imprensa no final de mais uma missão anual de avaliação da situação económica-financeira do país, o chefe da equipa técnica do FMI, Ulrich Jacoby, apontou a urgência de uma solução que pare "a drenagem" de recursos do orçamento de Estado para acorrer às empresas públicas em dificuldade.

Ulrich Jacoby alertou para uma "brusca deterioração" da situação financeira das empresas públicas, como Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) e Instituto Fundiário e de Habitação (IFH), sendo este último responsável pelo programa habitacional "Casa para Todos".

"A TACV representa um risco orçamental e está a drenar recursos do orçamento que poderiam ser melhor aplicados na agenda do desenvolvimento. Reconhecemos os esforços das autoridades no tratamento deste problema e na procura de soluções nos próximos meses por forma a estancar a drenagem de recursos do orçamento", disse Jacoby, adiantando que o mesmo problema se coloca no IFH.

O técnico do FMI reconheceu, entretanto, que a missão faz uma "avaliação positiva das perspetivas de crescimento do país", baseado no "forte programa" de investimento direto estrangeiro de 600 milhões de euros a implementar nos próximos anos, na "melhoria contínua" dos indicadores de confiança, nos altos níveis das remessas e na expetativa de um aumento da procura interna ao longo do ano.

"Tivemos cinco anos de crescimento muito baixo e este ano vemos uma aceleração do crescimento", disse Ulrich Jacoby.

Questionado por jornalistas sobre se o crescimento poderá atingir os 7% estimados pelo Governo, ele lembrou que as previsões do FMI apontam para um crescimento entre 3,5 a 4%.

No entanto, ele considera que o valor do crescimento de Cabo Verde irá depender das reformas e de politicas implementadas no país.

O chefe da missão do FMI alertou ainda da importância de Cabo Verde reduzir uma dívida pública "muito alta"  (126% do Produto Interno Bruto) que combinada, nos últimos anos,  com os baixos índices de crescimento económico, "deteriorou consideravelmente os rácios e aumentou" o risco financeiro do país.

Ulrich Jacoby sublinhou que, apesar do estoque da dívida ser muito alto, “Cabo Verde tem uma dívida exclusivamente em empréstimos concessionais, com prazos dilatados de pagamento e baixas taxas de juro, pelo que o país não tem falta de liquidez.

“Os indicadores da dívida não revelam problemas, no entanto, consideramos que é prudente começar a tratar deste problema agora", precisou.

O chefe da missão do FMI sublinhou o compromisso do Governo de reduzir a dívida, bem como a intenção de reduzir projetos de investimento, priorizando os que perspetivam "maior retorno em termos de crescimento e emprego".

Considera que, a longo prazo, será importante para Cabo Verde aumentar a produtividade para fomentar o crescimento, o que, a seu ver, inclui melhorar da eficiência do setor público, tornar as empresas públicas mais eficientes, privatizando-as ou entrando em parcerias público-privadas.

Ulrich Jacoby defendeu também a flexibilização do mercado laboral, considerando o novo código do trabalho, a vigorar no próximo mês, "um passo na direção certa".

"Cabo Verde tem um enorme potencial de crescimento, tem uma procura turística crescente. É importante ter-se trabalhadores qualificados de que a economia precisa, aumentar o crescimento inclusivo e a participação das mulheres no mercado de trabalho", concluiu.

Fonte: Panapress

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