Recomendação para ouvir: Mornas ao Piano - mais do que um disco … estórias sentidas e c(o)antadas

“Mornas ao Piano” é o tipo de disco que nos é difícil descrever, quer pelo tamanho do sentimento impresso, quer pela maneira como foi planeado e formatado em molde refletido.

Chamemos-lhe então de uma caixinha de música que contém mornas no seu interior e que, vamos ouvindo, uma por uma. As questões mais técnicas serão mais abaixo abordadas, porque são demasiado cuidadas para se passar ao lado.

Abrindo tal caixinha, vão saindo cores de acordo com a Morna que ouvimos, começando por um lindo passeio pela Cidade do Mindelo, onde a letra, quase que em modus de tantas outras canções por este mundo fora, nos mostra cinematograficamente os costumes e a cidade …era o Mindelo d’outrora…o Mindelo de Mãe Auta – o que “prendeu o coração” a muitos.

À medida que se vai passeando por este “Mornas ao Piano”, vão-se encontrando pequenos bancos de jardim, onde nos podemos sentar e confortavelmente aprender algo mais sobre a saudade, a alegria e o amor...o amor que aprendemos que “era cego”... passa aqui a ser... não a escuridão da cegueira... mas sim a luz intensa que não nos deixa ver quando estamos “oi-na-oi”. Precioso pensar que o amor não é cego, mas sim dono de uma luz intensa que nos encadeia. Este tipo de pormenores... e são tantos... é que vão adoçando este disco.

Afinal as grandes obras destacam-se exactamente pelos pormenores!

Há ainda lugar para as clássicas mornas que Teté e os seus músicos têm a capacidade de lhe sacudir a poeira e dar-lhe frescura, tornando-as assim mais vaidosas…

A capacidade musical e técnica dos músicos enriquece este passeio. As preciosas linhas do contrabaixo e a sensibilidade marcada em cada segundo tonal dos pianistas de serviço tornam a sonoridade deste disco tão leve que a morna parece flutuar.

Ainda, o facto de “Mornas ao Piano” ter sido gravado pela Trem Azul é marcante também para a música de Cabo Verde, dada a grandeza desta label e dos seus líderes.

A tudo isso se junta a voz de Teté Alhinho que numa calma tremenda nos adoça e quase que a vemos cantar de olhos fechados, sorrindo, porém… bailando o corpo quando a música se lhe impõe… fundindo-se com ela.

Mãe Auta abre o disco contando e fazendo lembrar o “Mindel d’outrora” e “k’prendel se corason”. P’Auta (instrumentalmente que belo início o desta composição!) fecha-o. Ficamos assim com a imagem de um abraço dançado entre mãe e filha ao longo do disco, ou pelo menos na abertura e fecho desta viagem.

Fonte: Expresso das Ilhas

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